Não devemos perder a fé e nem esmorecer jamais, mas hão de concordar que o brilhantismo das seleções
passadas não voltará tão cedo. Ainda há dentro de cada brasileiro um fanático por
futebol, mas este individuo foi tão machucado e esquecido que ainda passa por
uma longa recuperação. E Tite parece ser a solução.
Tal qual foi Felipão em sua era
de ouro, será o Tite. Revolucionando o jeito de jogar, a intensidade, a
profundidade, a titebilidade e outros ades que só ele tem. Atribuir tanta
responsabilidade pelo sucesso de uma equipe a um treinador pode ser precipitação,
ainda que a tanto tempo da próxima competição importante. Mas não há o que
discutir ao compararmos a seleção brasileira de futebol antes de Tite e depois
dele.
Definitivamente, deixando os
valores técnicos de lado podemos dizer que agora temos o que faltava;
confiança.
Mesmo que sejamos frustrados no
futuro, confiamos nele e em nossos jogadores. Arrasamos os nossos adversários e
mesmo sabendo que não existe salvador da pátria isento de surpresas temos fé,
pois o grito está preso na garganta a muito tempo e logo nós que nos
acostumamos tanto em ganhar mesmo não sendo os melhores, precisamos de novo
gritar.
Que os craques do passado me
perdoem, mas os medianos do presente serão a próxima equipe de futebol a fazer
história. Assim como Adenor fez com a desacreditada equipe do Corinthians,
recém fracassada a campeã brasileira, libertadores e mundial, ele o fará
novamente.
Se você duvida veja os números de
Tite comparados com os de Dunga no comando da seleção:
01
APROVEITAMENTO
DOBROU
Brasil sob comando de Dunga nas
Eliminatórias: 50% de aproveitamento (Foto: Lucas Figueiredo / MoWA Press)
Se
com Dunga, a desconfiança era geral, com Tite o panorama modificou em um
estalar de dedos. O Brasil não emplacou nas primeiras seis rodadas das Eliminatórias,
sob o comando do capitão do tetra. Foram apenas nove pontos conquistados em 18
possíveis: duas vitórias, três empates e uma derrota. A seleção estreou com
derrota de 2 a 0 para o Chile fora de casa. Venceu duas seleções fracas:
Venezuela e Peru, atuais última e antepenúltima colocadas. Além disso, empatou
fora de casa contra Argentina e Paraguai, além de repetir o resultado sem
vencedores contra o Uruguai, na Arena Pernambuco.
Os
maus resultados fizeram com que a CBF decidisse pela demissão de Dunga do
cargo de treinador da seleção, em junho do ano passado. Em seu lugar, Tite veio
e já mostrou de cara que foi um bom nome para substituí-lo. A campanha de nove
pontos de Dunga ou 50% de aproveitamento nas Eliminatórias virou - separando o
desempenho de cada treinador - uma trajetória de 100% de aproveitamento com
Tite. Ou seja, dobrou. Só não melhorou mais porque a matemática não permite. Em
seis partidas da competição continental com Tite como treinador foram seis
vitórias. Equador, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Argentina e Peru foram as
vítimas: nenhuma conseguiu tirar qualquer ponto da seleção brasileira.
02
GOLS
AUMENTARAM: MELHOR ATAQUE DA COMPETIÇÃO
Na
"Era Dunga", o Brasil marcou 11 vezes e tinha o quarto melhor ataque
das Eliminatórias da América do Sul. Uruguai, Equador e Chile tinham até então
os melhores ataques: 12 gols cada. Mas, com Tite, o Brasil assumiu o posto de
melhor ataque da competição, e com folga. Com os 17 gols feitos com o atual
treinador da seleção, o Brasil já soma 28 gols pró. Isso garante a equipe
brasileira com folga na liderança do quesito se comparado ao segundo colocado:
o Uruguai, próximo adversário do Brasil nas Eliminatórias, tem 24.
03
DEFESA VIRA
A MENOS VAZADA
Com Tite como treinador, Brasil
levou apenas um gol (Foto: Marlon Costa/Futura Press)
Grandes
times contam com defesas consistentes e que, principalmente, tomam poucos gols.
Talvez um dos grandes trunfos de Tite seja ter acertado a defesa. Nas primeiras
seis rodadas, o Brasil tinha apenas a quinta melhor defesa das Eliminatórias ao
lado da Colômbia - cada um já havia sofrido oito gols. Uruguai, Argentina,
Paraguai e Equador estavam a frente no quesito de melhores defesas. Os seis
primeiros jogos da seleção comparados aos seis seguintes mostram uma diferença
gritante. Antes, o Brasil só não tinha levado gol em um jogo (no último
compromisso da seleção em 2015 com a vitória de 3 a 0 sobre o Peru). Depois,
apenas na partida contra a Colômbia, o goleiro Alisson viu sua rede balançar. E
ainda assim com um gol contra: Marquinhos tentou cortar falta batida por James
Rodríguez e botou a redonda no fundo do próprio gol.
Quando
Dunga ainda comandava a seleção, o time havia tomado oito gols em seis partidas
pelas Eliminatórias. Depois, com Tite no comando, a defesa se acertou e o
Brasil levou apenas um. Com a melhora de rendimento na defesa, a equipe
brasileira passou a ser o time com menos gols sofridos da competição: nove. Do
outro lado, a Bolívia - a mais vazada - levou 31.
04
DIVERSIFICAÇÃO
DOS ARTILHEIROS
Novos
artilheiros apareceram e mais jogadores diferentes marcaram pela seleção
brasileira assim que Tite virou o técnico. Principal nome do Brasil, Neymar não
havia feito gol nas Eliminatórias para a Copa da 2018 enquanto Dunga era
treinador. Já com Tite, ele fez quatro. Na "Era Dunga" não havia um
artilheiro somente, mas quatro: Willian, Ricardo Oliveira, Renato Augusto e
Douglas Costa. Todos com dois. Além deles, outros três jogadores balançaram as
redes uma vez cada: Lucas Lima, Filipe Luís e Daniel Alves. No total, o Brasil
contou com sete atletas diferentes marcando gols pela seleção nos seis
primeiros compromissos na competição.
Com
o novo treinador, dois jogadores se destacaram na artilharia: Gabriel Jesus e
Neymar fizeram, respectivamente, cinco e quatro gols sob o comando do
ex-técnico do Corinthians. Destaque no Liverpool, Philippe Coutinho passou a
brilhar mais com a camisa da seleção e fecha o Top 3 com dois gols. Além dos
três, Miranda, Filipe Luís, Roberto Firmino, Willian, Renato Augusto e Paulinho
marcaram uma vez cada pela seleção entre as rodadas 7 e 12.
05
NEYMAR
CALIBRA O PÉ
Neymar aumenta
eficiência de suas finalizações em quase 25% (Foto: EFE)
Neymar
havia passado em branco nas partidas que disputou pelas Eliminatórias quando
era comandado por Dunga. Um motivo para isso foi a falta de pontaria. Apesar de
ser o segundo maior finalizador da seleção na "Era Dunga", os gols
não vieram. O craque do Barcelona arrematou 10 bolas em direção ao gol, mas
apenas duas tomaram o caminho do gol e necessitaram a intervenção do goleiro
adversário. As outras oito foram para fora ou bloqueadas pela zaga do outro
time. Também teve o fato de cumprir suspensão nas duas primeiras rodadas,
punição herdada de uma expulsão na Copa América de 2015.
Já
com Tite, Neymar calibrou o pé e voltou a fazer a alegria dos torcedores
brasileiros. Como característica de finalizador, Neymar passou a ser o jogador
com mais arremates da seleção comandada por Tite: foram 17 no total. Como ele
marcou quatro vezes nas 17 vezes que tentou, sua eficiência aumentou - e muito.
O camisa 10 foi o que melhorou mais o rendimento das suas finalizações quando
comparado com os demais companheiros. De 0% para 23,52%, um aumento
considerável.
No
Ranking de Eficiência das Finalizações vale destacar uma figura importante da
seleção: o lateral esquerdo Filipe Luís. Ele manteve os 100% de aproveitamento
tanto com Dunga quanto com Tite. Isso porque nas duas vezes que ele chutou a
gol, o resultado foi a bola no fundo do gol. Veja o ranking ao lado e confira o
desempenho de todos os jogadores brasileiros que finalizaram a gol nestas
Eliminatórias desde a 1ª rodada.
06
NOVA PEÇA-CHAVE:
GABRIEL JESUS
Um dos destaques da seleção de Tite: Gabriel Jesus (Foto: Pedro Martins
/ MoWA Press)
Convocado
apenas a partir da troca de técnico na seleção, Gabriel Jesus mostrou, em
campo, o porquê mereceu estar presente em todas as convocações de Tite. O
garoto de 19 anos assumiu o posto de camisa 9 do Brasil e mostrou serviço de
imediato. Ele é o artilheiro da seleção brasileira comandada por Tite com cinco
gols. Titular em todas as partidas, Gabriel Jesus é o segundo que mais finaliza
na equipe, com 15 arremates. Quase metade foi em direção ao gol e os outros
oito chutes passaram por cima da meta ou foram para fora pelo lado. A sua
eficiência nas finalizações é a quarta maior da equipe: 33,33% de acerto para o
jovem atacante do Manchester City.
07
NEYMAR
AUMENTA PARTICIPAÇÃO EM GOLS
Enquanto
Willian, meia do Chelsea, foi o grande destaque da seleção brasileira nas
Eliminatórias sob o comando de Dunga, a partir da mudança no comando Neymar assumiu
esse papel. O primeiro participou de cinco dos 11 gols da seleção, um
percentual elevado de 45,45%. Já o segundo voltou a chamar a responsabilidade
para si e nove dos 17 gols do Brasil com Tite saíram dos seus pés. Neymar teve
uma porcentagem de participação de incríveis: 52,94%.
O
camisa 10 ganha destaque porque com Dunga, ele havia participado de apenas um
gol: a assistência que deu para Renato Augusto no empate em 2 a 2 com o Uruguai
pela 5ª rodada da competição. Isso dava a ele uma porcentagem de apenas 9,09%
de participação nos gols da seleção. Agora, ele aumentou sua participação nos
gols da seleção em 43,85% quando comparado seus respectivos desempenhos sob os
comandos de Tite e Dunga.
08
EFICIÊNCIA
AÉREA MELHOR
comparação entre Tite e Dunga 3
(Foto: Infoesporte)
O
Brasil finalizou mais com Tite do que com Dunga. Mas, as jogadas aéreas
diminuíram levemente: foram 24 com Dunga e 22 com Tite. Isso revela que a
seleção de Dunga explorava mais a finalização vinda pelo alto. Por isso, 30,76%
dos ataques do Brasil do ex-técnico da seleção foram aéreos. Enquanto que com
Tite, esse número cai um pouco para 25,58%. Ou seja, o Brasil, mesmo
finalizando mais, optou pelo jogo rasteiro do que o aéreo.
No
entanto, apesar de ter diminuído um pouco os ataques pelo alto, o Brasil de
Tite conseguiu um melhor desempenho do que o Brasil de Dunga. A eficiência do
jogo aéreo do primeiro foi de 13,63% enquanto o segundo foi de 12,5%. Como a
seleção brasileira fez seis gols aéreos nas Eliminatórias - três com cada
treinador -, a seleção de Tite é mais eficiente porque precisou finalizar menos
vezes para ver a mola morrer no fundo da rede.
09
CHUTAR DE
FORA DA ÁREA É UM CAMINHO
A
seleção brasileira não tem feito muitos gols de fora da área nas Eliminatórias:
foram apenas quatro (um com Dunga e três com Tite). Mas um fato é certo: a
eficiência do Brasil neste quesito também melhorou com o novo técnico. Antes o
time precisou finalizar 36 vezes de fora da área para marcar um único gol.
Ainda assim, o gol de Renato Augusto na vitória do Brasil de 3 a 0 sobre o Peru
na quarta rodada da competição foi da meia-lua: não tão distante assim da
grande área. Apesar de 46,15% dos chutes da seleção de Dunga nas Eliminatórias
terem sido de fora da grande área, a eficácia nestes arremates foi de apenas
2,77%.
A
partir da sétima rodada, o Brasil continuou finalizando bastante de fora da
área: foram 38 vezes. Mas, apesar de ter feito apenas três gols nesta região do
campo, a eficiência neste tipo de finalização melhorou com Tite. Na verdade,
quase triplicou: foi de 2,77% para 7,89%. Ainda não é um número de encher os
olhos mas evidencia evolução;
10
MENOR
RODÍZIO DE ATLETAS EM CAMPO
A
repetição de escalação oferece a possibilidade de um maior entrosamento dos
atletas em jogo. E o que se pode observar nos jogadores que entraram em campo
pela seleção com Dunga e com Tite é que o primeiro testou mais jogadores em
campo que o segundo. É fato que a base da seleção já estava montada, mas Tite
conseguiu consolidar as posições que ainda eram falhas na equipe e conseguiu
repetir a escalação de peças fundamentais para a sua filosofia de jogo. Com
Dunga, 23 jogadores diferentes entraram em campo pelo Brasil e com Tite esse
número caiu para 19.
Brasil de Tite testou 19 jogadores diferentes nestas Eliminatórias
(Foto: Pedro Martins / MoWA Press)
Com
Dunga, a dupla de zaga titular mudou três vezes, variando entre Miranda e David
Luiz, Miranda e Marquinhos e Miranda e Gil. Dentre eles, apenas um se
consolidou como titular absoluto da seleção de Tite: o zagueiro do
Internazionale, Miranda. Ele formou a dupla de zaga titular ao lado de
Marquinhos em todos os jogos comandados por Tite nas Eliminatórias.
Outro
jogador fundamental até o momento e que foi titular em todas as seis partidas é
o atacante Gabriel Jesus. Ele começou jogando em todos os seis confrontos de
Tite pela competição continental e ajudou o Brasil a conquistar seis vitórias
nos últimos seis jogos do torneio.
* A
equipe do Espião Estatístico é formada por: Eduardo Sousa, Guilherme Maniaudet,
Guilherme Marçal, Leandro Silva, Marcio Menezes, Paula Carvalho, Roberto
Maleson, Valmir Storti e Wilson Hebert.
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